Sunday, January 30, 2011

Céu Azul

Acordei hoje e fitei o céu. E numa gama de pensamentos, só um se destacou: o céu talvez seja azul por uma trégua da natureza com os tristes seres que habitam o planeta, fazendo-os felizes mesmo que por um dia. Mesmo que só um dia. O azul é a cor da alegria. O azul nos convida à fantasia e ao bem. O azul e seus exuberantes tons, nos convidam à poesia que existe em qualquer ser humano ou não.

Preciso parafrasear Fernando Brant quando ele diz: "É triste não ter o azul todo dia a nos alegrar".
E é triste mesmo. Não obstante, em um mundo enviesado, tórpido e triste ao mesmo tempo, temos que nos alegrar em ver qualquer cor; em sentir qualquer sabor ainda que seja o amargo. Precisamos do amargo para sentir o sabor do mais doce néctar, assim como precisamos do azul para pensar que existe o cinza, o preto, o rosa e o amarelo do sorriso.

Para terminar, que tal - nestes dias - termos pensamentos azuis?  Tentarmos, mesmo diante a tanta maldade, tanta tristeza, repito, sermos azuis? Sem querer ser personagem de Cameron, acho que além do vermelho, o azul corre em nossas veias, sem a alcunha de nobreza, e temos que encontrá-lo porque o céu é azul, o mar é azul, o lá é azul e Djavan disse: "O amor é azulzinho".

Ótimos azuis pra todos.

Saturday, January 29, 2011

Por Joatan Nascimento

LUCIANO CALAZANS
Por Joatan Nascimento
Salvador, BA 29/01/2011

Lu, como carinhosamente lhe chamamos, é um daqueles casos raros na música. Excelente músico, criador compulsivo, inteligente, provocador, politicamente atuante, e pra fechar a tampa, gente boa pra caramba! Ou seja, um cara pra se ter por perto.
Conheço Lu há muito tempo e se não tivemos muitas experiências musicais juntos, soubemos construir uma relação de respeito e admiração mútuos. É que Luciano possui um daqueles atributos especiais que todo músico deveria ter: humildade. Humildade não tem nada a ver com fraqueza, com falsa modéstia ou insegurança. Pelo contrário. Revela uma força que advém do saber-se aprendiz, sempre. Não importa aonde se chegou: há muito a construir. É saber-se parte de um processo de construção de uma identidade musical que alia respeito pela tradição (aos que vieram antes) e motivação para aventurar-se em novas experiências (compromisso com aqueles que virão). Lu tem feito isso com maestria. Seu momento atual de criação revela uma ambição que, longe de soar pretensiosa, é muito mais a busca dessa identidade (que só é construída na labuta com as ferramentas adquiridas no decorrer dos anos). Sua performance é apaixonante e deslumbrante. Suas idéias musicais (composições, arranjos, solos), mostram os desafios a que ele se submete na busca da sua voz musical. Seu discurso é coerente.
  muito que tocar, há muito a se viver. Vida longa, Lu. E não se esqueça, somos do tamanho dos nossos sonhos.

Natureza e música na formação de cidadãos

Luciano Calazans
(Músico, professor do Coral do Mar, produtor musical da banda Casco Cabeça)

Sou Luciano Calazans, músico, compositor, arranjador e produtor musical, mas prefiro sintetizar todas essas funções em uma: músico. Até porque as outras são derivadas desta função/profissão/arte/amor. Lembro-me de minha infância quando, ao ouvir uma palavra diferente, estranha, fui imediatamente consultar - o que chamavam de “pai dos burros” – o dicionário. Permitam-me, inclusive, discordar dessa alcunha para o dicionário, pois o considero o pai dos inteligentes e curiosos do significado das palavras. O prazer de saber o significado da palavra consultada era o mesmo de solucionar um mistério tal qual Sir Holmes.

A palavra em questão era: Oceanógrafo. Permitam-me uma reprodução de seu sentido denotativo retirado da Wikipédia: “A oceanografia (também chamada ciências do mar ou oceanologia) é a ciência que estuda os oceanos, procurando compreender, descrever e prever os processos que ocorrem neste ambiente. A oceanografia tem caráter multidisciplinar e estuda os oceanos sob quatro aspectos principais: físico, químico, biológico e geológico. O profissional formado em oceanografia chama-se oceanógrafo, e está habilitado a trabalhar na pesquisa científica dos oceanos e na gestão de recursos marinhos e ambientais”.

Sabia  – ou pensava que sabia – o que era o oceano. A imensidão azul, habitada por animais marinhos, tubarões, baleias e criaturas que pareciam de outro mundo. Para mim, o oceano era o que existia no mundo mais perto de Deus – apesar de aprender no colégio que Deus estava no céu. Hoje, tenho certeza que Deus está no oceano e é para lá que olho quando quero conversar com o Ser Supremo.

A oceanografia parecia algo muito distante, impalpável. No entanto, outro amor era muito presente. Estou falando da música. Não sei se tem a ver com a questão genética, pois meu bisavô, Raul Grave, era maestro e todos na família paterna têm uma vertente especialíssima com este ramo da arte, inclusive meu pai, que foi músico profissional e muito me influenciou com um repertório da década de 60 e 70. Lembro-me que toda semana, como bons baianos, aconteciam em minha casa rodas de choro regadas com muita alegria, churrasco e cerveja. Ou se tem a ver com minha busca incessante pelo conhecimento musical. O certo é que, no meu caso, dom e vontade de aprender andaram e andam juntos.

Estudei na Escola de Música da UFBA de 89 a 91, onde tive excelentes professores que muito me auxiliaram no aumento de minha curiosidade. Além desses professores acadêmicos, pessoas com bom gosto e com informações musicais também foram meus guias e, de certa forma, professores. Lembro da influência de muitos.

Quando via o mar, pois morava muito distante dele, meu coração batia palminhas. E quando chegavam as férias e íamos para Arembepe/BA, era como se tivesse chegado ao céu. Para resumir – não entrarei em pormenores – aquilo tudo, a música e o oceano iam se namorando, amando-se.Tive o privilégio de, mesmo vindo de uma infância um tanto humilde, ouvir música em todas as suas vertentes, ter a quem perguntar, ter um dicionário e ser curioso.

Em suma: através do interesse pela música aliado ao desejo de informação sobre a vida na Terra – em uma época que ecologia nem era um assunto tão falado, pelo menos para mim – consegui escolher o que queria ser na vida. Aprendi a questionar, com professores ou não, sobre diversos assuntos que me interessavam (ser autodidata também é muito bom). Aprendi a respeitar os mais velhos, a respeitar hierarquias naturais, aprendi com erros, dentre inúmeros outros aprendizados. Só não aprendi a ser anjo (e acho que isso hoje é quase impossível), mas sei que eles existem e que estão personificados nas crianças, seres puros e cheios de vida, a quem podemos influenciar com boas ou más posturas.

Graças à música pude realizar um grande sonho: conhecer o primeiro oceanógrafo em minha vida. E olha que peso. E olha que oceanógrafo. Trata-se de Guy Marcovaldi. Um idealista. Um homem que faz acontecer. Que sonha e que torna possível várias realidades. Que bom que ele gosta da música! Novamente vou usar uma frase já dita anteriormente: aquilo tudo, a música e o oceano iam se namorando, amando-se.Lembro quando foi esse encontro. Deu-se em fevereiro de 2010 no Oceanário de Aracaju. Acompanhava o grande músico baiano Armandinho, num show para os 30 anos do Projeto TAMAR.

Hoje, sou muito feliz pelo projeto TAMAR e pelos Tamarzinhos terem aparecido em minha vida por várias razões: o que outrora era um centro de visitação onde podia deleitar-me com as tais criaturas marinhas que só via em filmes e documentários, transformou-se em fonte da mais pura e perene inspiração para várias coisas que tenho feito - e isso em menos de um ano!  Chorei ao conhecer os “bastidores” do Projeto. Nunca tinha visto a olho nu tamanha dedicação, isenção de vaidades, vontade de fazer o bem, vontade de cuidar da natureza, dentre outras infinitas “lindas do mar”.

Uma das principais razões de tamanha felicidade, digo com certeza que a mais importante, foi criar o “Coral do Mar” e em seguida ministrar aulas de teoria elementar às crianças nativas de Praia do Forte e adjacências. Coisa que pretendo, com o apoio do TAMAR, estender à comunidade de Arembepe e/ou outras bases que se identifiquem ou contextualizem o ensino de música aos seus padrões e realidades.

Esse Coral só me dá alegrias. No início, houve necessidade de uma seleção de crianças, em seguida planejamento e execução de aulas de uma hora, às segundas-feiras, na Base do Tamar, na Praia do Forte. De frutos já temos: o Coral do Mar  se apresentando em shows com a Banda Casco Cabeça e fazendo gravação em estúdio para a música “Casco Cabeça”, faixa do CD dos 30 anos do Projeto Tamar; a mensagem de Natal do Tamar para seus amigos e parceiros; e também a participação no clipe de fim de ano junto com funcionários da base de Praia do Forte cantando a Valsa da Esperança. Tudo isso pode ser conferido no site do Tamar. Com o suporte do TAMAR e de seus organizadores consegui – aliás ainda estou no começo – realizar um sonho de muito tempo: ver uma centelha de interesse por cultura no olhar de cada criança, responder “oceanos” de perguntas sobre harmonia ali, melodia aqui, cânones, Villa Lobos (é isso mesmo! Villa Lobos), Jobins, Pixinguinhas e assim por diante.

Não é intenção desse Projeto, que alia música e consciência ecológica, formar “Mini-músicos”. Nem os faço vislumbrarem, nem se deslumbrarem, afinal de contas todos são estudantes, e precisam de informações hoje para serem cidadãos de valores preciosos no futuro.

O Coral do Mar já é um sucesso por si. Antes mesmo das aulas de música ele foi formado. É um misto de prazer, curiosidade e o fascínio pelo desconhecido que une esses meninos – que são Tamarzinhos também – para cantar. Ando pela vila em Praia do Forte e não tem um dia que não seja assediado por crianças querendo cantar! Isso não é lindo? Só isso: “Posso cantar no coral, tio”?

Mas isso é uma coisa natural. Repito sempre: A música é um vírus e todos nascem com esse vírus, mas ele só se manifesta em alguns. Se houver algum “infectado” na turma, é questão de tempo tornar-se músico, crítico de música, maestro ou alguma profissão ligada à arte. Ou não. Pode ser também o que deseja e sonha, e mesmo assim ter conhecimentos ambientais e musicais. Quem sabe no futuro não tenhamos, dessa primeira turma, um oceanógrafo músico ou mesmo um músico que goste do oceano.

O foco das aulas que são gratuitas e abertas a todos da comunidade, é fomentar mais um suplemento cultural em crianças (alvo principal), além do que elas já estudam em suas escolas. Está dando certo aos poucos em Praia do Forte (PF) e acho que seria de bom grado que em outras bases – com estrutura similar a de PF – seguissem essa “aventura” prazerosa e cultural para os dois lados: o de quem ensina e o de quem aprende. Ambos têm a mesma função na minha opinião. Quem ensina aprende e vice-versa. Então, para terminar, a música, o oceano, a ecologia, a arquitetura, a engenharia, a medicina, o direito, a natureza em si, terão uma chance, por menor que seja, de caminharem juntos de mãos dadas por vários mundos melhores!

E para terminar, mais uma vez, o que já disse: “aquilo tudo, a música e o oceano iam se namorando, amando-se”. Depois, teremos um grande casamento. Só pergunto em qual base do Tamar será a festança?