Friday, September 30, 2011

Céu-Inferno Preciso




Céu-Inferno Preciso               Luciano calazans. Salvador, Bahia.


Há em toda mulher uma paz celestial
Há em toda mulher uma fragrância, uma narcose
Barulho em um silêncio lascivo e infernal
Em cada alma feminina o perdão.
O ódio se converte em mar
A candura em sertão
O "diz que diz" do poeta da Bossa
O Estige - porque não?
São rios à procura de mares perdidos
Vãos
Estrelas em constelações de constelação.
Brados, sussuros
Susurro-brado
União
Brandos sorrisos, pranto, pranto -sorriso
À flor da pele a emoção
Céu, inferno, limbo, paraíso, fogo, terra, sol e ar - humanos são
Mortal que sou! Ah presunçoso mortal!
Ao tentar traduzi-las em palavras vãs.




                                                                          Luciano Calazans, Salvador, 01/12/2011

Wednesday, September 21, 2011

Conteúdo?

É bom recordar. Tenho muita coisa guardada e não quero ficar guardando nada.

Escrevi isso em um momento muito delicado da minha vida. Mas o que importa mesmo é a verdade.



CONTEÚDO?

Sim ao contudo
Não ao obstante
Sim ao ébrio
Não ao inebriante
Sim ao obscuro
Não ao brilhante
Sim ao supérfluo
Não ao importante
Sim ao inferno
Não ao "tal' Dante
Sim ao chumbo
Não ao diamante
Sim ao amável!
Não ao amante!
Sim ao agora
Não ao antes!
Sim a isso
Não aquilo...



                                                                     Luciano Calazans, Salvador, 15/12/2005

Monday, September 12, 2011

Só Salvador

Tristes avenidas margeadas por tristes alegrias.
Triste realidade, outrora onírica fantasia
Fuço seus becos, vielas, montes sem reboco
Vejo em tempo real no cheio o oco
Cidade outrora morena,  agora pálida.
Almas cálidas passeiam alheias ao nada.
Só Salvador...
Só Salvador.
Dos bares e botecos cheios de graça
Da Graça, caminhando pela Vitória o sabor de uma desconfortável e amarga derrota  - efêmera?
Do azul quase cinza do oceano
Do cinza azul turquesa por baixo dos tapetes vermelhos em que caminham
Paralela concreta que Moraes de Vinícius e de Moreira não citariam
Morena cidade. Negra cidade
O negro que lhe toma é o negro dos esgotos a céu aberto queimando meu nariz.
O centro...Ah! O Centro...
Não é menos doloroso e cruel quanto as execuções e esquartejamentos de Séculos atrás
A execução sumária prevalece. O terror impera.
Só Salvador
Só Salvador
Qual o teu acalanto? Qual o teu alento?
O bafo dos maus feitores exalam pútrida mentira e dissimulação
Seu verde se torna rasteiro, um tanto árido.
Só Salvador
Só Salvador de quem?
Do menino inquieto correndo embaixo do velho "novo" metrô?
Dos jardins de plástico em suas não menos plásticas alamedas"
Dos motoristas que contam os dias para os tais jogos de arenas?
Dos tristes foliões em suas máscaras naturais?
Só Salvador.
Dor não se salva. Sente-se dor.
Até quando?
Só Salvador
Só Salvador


                                                                                     Luciano Calazans, Salvador, 13/09/2011

Saturday, September 3, 2011

Lábios Vermelhos - Luciano calazans/Gerônimo

Olá pessoas. Venho aqui pouco. Não obstante, gosto de aproveitar esse espaço para coisas com algum fundamento e/ou que contribua de maneira positiva para todos. Postarei aqui um vídeo de uma canção em que escrevi a música e o mestre Gerionimo fez a letra.
Compús essa música, dentre centenas, em Praia do Forte e enviei por e-mail para Gerônimo (Geo, como o chamo) e ele no dia seguinte enviou a letra traduzindo com maestria a atmosfera que serviu de inspiração. Escrevi um arranjo para duas Flautas, dois Trombones, um Sax Barítono, Um baixo elétrico fazendo o "papel" de violão e outro seguindo -o, fazendo nuances harmônicas.
Nasceu Lábios Vermelhos. Uma canção que, em tempos de violência, mentiras, corrupção desenfreada, traz uma mensagem de paz. Essa paz é bastante enfática em um trecho da letra que diz: "Todo tempo é de Amor..."
Espero que apreciem.
Muita música e luz para todas e todos.

Luciano Calazans

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=1L4QsWpcgL0

Sunday, May 8, 2011

Um Choro Pra Augusta

Oi Pessoal. Como foi o dia das mães e estou muito disposto e feliz, postarei a partitura do tema principal de um choro de minha autoria e que está no meu àlbum "Contrabaixo Astral", dedicado a minha avó Augusta, a quem desde criança "pequena" chamo de Mãe.
Está no CD e também podem encontrar uma versão no youtube ao vivo (segue o link) a quem interessar possa!
Viva a música sempre!

Luciano calazans

http://www.youtube.com/watch?v=Iba1JmGNmys

Friday, May 6, 2011

Aos Nossos Filhos 2 - O Prefácio

Postarei agora. Veio música e letra ao mesmo tempo após um papo no Tango Café em Praia do Forte sobre o Canal do Panamá. Tem harmonia e melodia. Mas podem imaginar a melodia que quiserem.
Beijão a todos!


Aos Nossos Filhos  (Luciano Calazans)

Se eu não reclamar
Se tua voz calar
É claro! Sou culpado
Sou mais um a ouvir
Seu brado sibilar
Sua fúria crescer
Tá claro, sou culpado
Sou só mais um
Vendo o futuro derreter e sangrar em minhas mãos
Vendo o cheiro do algoz em vários nós
Espalhado pelo chão
Eu quero viver
Não quero guerra com a terra
Eu quero mergulhar, boiar no mar azul de eras
Terra...
Somos inquilinos
A poderosa mãe, não vai mais perdoar
E não há super-homem que encare
Última gota de um ouro sujo
Que só mancha a cor divina da imensidão
Amor! Venha! seja a nossa redenção
Nossos filhos vão crescer
Ventre...
Ventos...
Pedem só mais um bilhão
Clamam mais uma canção:
Queremos viver!  E ver o azul do oceano
Terra- somos o destino
Queremos mergulhar! Boiar no verde-marrom de eras
Somos inquilinos
Somos os meninos
Somos o destino 


                                                                         Luciano Calazans, Praia do Forte -BA, Dezembro , 2011.

                   

Aos Nossos Filhos 1 - Prefácio do prefácio do prefácil.

Oi amigos. Minhas visitas aqui são esporádicas. Não há em mim a intenção de ser blogueiro. Sou músico e li em um livro de música que prolixidade e a brevidade podem andar juntas.
Postarei uma letra que escrevi - coisa que faço pouco (raramente) - que é bastante pessoal e sincera. Não tem cunho comercial (ou tem). Bom, acho que isso depende muito de quem entende do assunto: o que é comercial ou não. O que vende ou não. O que vai ficar na "boca do povão" ou não.
O problema, sem generalizar, é que quem faz esse "garimpo" na maioria das vezes não consegue enxergar/ouvir nada em uma frase do tipo: vi o oceano lambendo a pele dourada da areia.
O que acho, em meu humilde (ou quase nenhum) conhecimento do que é comercial é: que o mundo está com preguiça de decodificar palavras. Ouvir os sons das palavras que a noite "diz", o dia "diz" ou ver o oceano "sorrir". Sonhei tanto e ainda sonho em ouvir coisas que venham acrescer mais algo para o "povão". Sou do povão e quero mais. Quero verdade. Em todos os segmentos. Talvez esteja mentindo ao escrever essas linhas...mas quero a verdade.
Será que os meninos vão conseguir um dia ouvir "Coração Civil" de Milton Nascimento e Fernando Brant? Espero que sim. "Quero a utopia quero tudo e mais"

Tuesday, April 12, 2011

O Siri e a Lata

Oi amigos. Todos temos uma certa vaidade por mais intrínseca que seja. Qualquer vaidade é um tanto perigosa pois flerta com muitos defeitos de caráter. Mas, deixemos filosofias de lado e vamos ao que interessa - nesse caso não só a mim mesmo. A um monte de gente - amigos, gente que gosta de meu trabalho,  curiosos, alunos que tenho -  que  questionaram o porquê do título da Música/performance e que eu chamo de um estudo, um poema "Slapal" - "O Siri e a lata".

Serei curto e grosso já que tenho a permissão da fonte de inspiração: O Siri é a minha amada esposa Ezilda Melo calazans e a Lata sou eu mesmo. Quando namorávamos, ela costumava dizer que era um "siri na lata". Uma espécie de "alerta" ao futuro. Tinha o esboço percussivo de um blues tocado com a técnica Slap usada na maioria das vezes no contrabaixo elétrico. Depois do casamento, veio inspiração para uma continuação que não deixa de ser, a cada vez que executo, uma improvisação permeada de supresas mesmo na hora que estou tocando. Surpresas. Assim como a vida é feita de muitas, muitas, infinitas supresas. Obrigado minha Zil.
Então é essa a história do "Siri e a Lata" que prometi relatar. Postarei o vídeo aqui é claro.
Abraço a todos e muita música sempre!
OBS: Esse vídeo foi de uma entrevista ao Bahia Notícias e conduzida por James Martins. Valeu James!

Luciano Calazans.

Sunday, March 27, 2011

O Oceano Chama (Pablo Neruda) - Jardim de Inverno

Oi amigos. Me indentifiquei muito com esta pérola que Neruda escreveu. Tem muito a ver com muitas coisas. Vamos navegar:

"Não vou ao mar por este amplo verão
coberto de calor, não vou mais longe
destes muros, das portas e das gretas
que circundam vidas e a minha vida.

Em que distância, frente a qual janela,
em que estação de trens
deixei esquecido no mar? E ali ficamos,
eu dando as costas para o que amo
enquanto lá continuava a batalha
de branco e verde e pedra e lampejo.

Asssim foi, assim parece que assim foi:
mudam as vidas, e o que vai morrendo
não sabe que essa parte dessa vida,
essa nota maior, essa abundância
de cólera e fulgor ficaram longe,
e te foram cegamente cortadas.

Não, eu me nego ao mar desconhecido,
morto, rodeado de cidades tristes,
mar cujas ondas não sabem matar,
nem carregar-se de sal e de som.
Eu quero o meu mar, a artilharia
do oceano golpeando as suas margens,
a derrubada insigne de turquesas,
a espuma onde morre o poderio.

Não vou ao mar este verão:estou
encerrado, enterrado, na distância
do túnel que me leva prisioneiro
ouço remotamente um trovão verde,
um cataclismo de garrafas rotas,
um sussurro de sal e agonia.
É o libertador. O oceano, lá
longe, que na minha pátria me espera". ( Pablo Neruda)

                                                                      A vida precisa da música. A vida precisa da arte. A vida precisa de poesia. O mundo precisa de amor... L.C

Thursday, March 10, 2011

Virtuose (Estudo Nº1)

Olá pessoal! Postarei aqui  a partitura de uma composição que nasceu enquanto eu praticava o meu instrumento que é o Contrabaixo elétrico. Já que tive e tenho muita influência do Choro, a composição, que na realidade era para ser  um estudo - e ainda, pelo menos para mim é - se transformou em um choro.
Aqui vai "Virtuose (Estudo Nº 1)" Para contrabaixo e pandeiro. Aliás para qualquer instrumentista.
Abraços,

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L.Calazans

Tuesday, February 22, 2011

Síntese das Antíteses

Enquanto escrevia uma arranjo - como é de costume em minhas madrugadas - resolvi dar uma pausa no trabalho e começei a ler o "Tao Te Ching" de Lao-tsé. Um poema filosófico chamou-me atenção e resolvi postá-lo aqui. Muito interessante. Aos que não conhecem leiam. Aos que conhecem, vale a pena ler mais um milhão de vezes.
Luciano Calazans.


"Só temos consciência do belo
Quando conhecemos o feio.
Só temos consciência do bom quando conhecemos o mau.
Porquanto o ser e o existir
Se engendram mutuamente.
O fácil e o difícil se completam.
O grande e o pequeno são complementares.
O alto e o baixo formam um todo.
O som e o silêncio formam a harmonia.
O passado e o futuro geram o tempo.
Eis porque o sábio age
Pelo não-agir.
E ensina sem falar.
Aceita tudo que lhe acontece.
Produz tudo e não fica com nada.
O sábio tudo realiza - e nada considera seu.
Tudo faz- e não se apega à sua obra.
Não se prende aos frutos da sua atividade.
Termina sua obra.
E está sempre no princípio.
E por isto sua obra prospera.

                              

Tuesday, February 1, 2011

MERAS REFLEXÕES (Não tardias)

Veja! não há tempo para ver.
Pense : não há tempo pra pensar
Sinta : não há tempo para sentir
Minta! a escolha é sua.
Julgue! não há o que julgar . Não há tempo para errar...
Permita-se, não espere permissão.
Obedeça seu coração
Flerte com a ilusão
Namore os sonhos
Case com a razão.
Vão as palvras, ficam as idéias
Cale-se? O problema é seu...
A pomposa águia vê de longe.
Do alto seus dilemas...
Olhos cegos. Olhe os cegos...
Deixe  voar!
Deixe-me voar.
                                     Luciano Calazans, Praia do Forte-Bahia, madrugada de 22/10/2010

Sunday, January 30, 2011

Céu Azul

Acordei hoje e fitei o céu. E numa gama de pensamentos, só um se destacou: o céu talvez seja azul por uma trégua da natureza com os tristes seres que habitam o planeta, fazendo-os felizes mesmo que por um dia. Mesmo que só um dia. O azul é a cor da alegria. O azul nos convida à fantasia e ao bem. O azul e seus exuberantes tons, nos convidam à poesia que existe em qualquer ser humano ou não.

Preciso parafrasear Fernando Brant quando ele diz: "É triste não ter o azul todo dia a nos alegrar".
E é triste mesmo. Não obstante, em um mundo enviesado, tórpido e triste ao mesmo tempo, temos que nos alegrar em ver qualquer cor; em sentir qualquer sabor ainda que seja o amargo. Precisamos do amargo para sentir o sabor do mais doce néctar, assim como precisamos do azul para pensar que existe o cinza, o preto, o rosa e o amarelo do sorriso.

Para terminar, que tal - nestes dias - termos pensamentos azuis?  Tentarmos, mesmo diante a tanta maldade, tanta tristeza, repito, sermos azuis? Sem querer ser personagem de Cameron, acho que além do vermelho, o azul corre em nossas veias, sem a alcunha de nobreza, e temos que encontrá-lo porque o céu é azul, o mar é azul, o lá é azul e Djavan disse: "O amor é azulzinho".

Ótimos azuis pra todos.

Saturday, January 29, 2011

Por Joatan Nascimento

LUCIANO CALAZANS
Por Joatan Nascimento
Salvador, BA 29/01/2011

Lu, como carinhosamente lhe chamamos, é um daqueles casos raros na música. Excelente músico, criador compulsivo, inteligente, provocador, politicamente atuante, e pra fechar a tampa, gente boa pra caramba! Ou seja, um cara pra se ter por perto.
Conheço Lu há muito tempo e se não tivemos muitas experiências musicais juntos, soubemos construir uma relação de respeito e admiração mútuos. É que Luciano possui um daqueles atributos especiais que todo músico deveria ter: humildade. Humildade não tem nada a ver com fraqueza, com falsa modéstia ou insegurança. Pelo contrário. Revela uma força que advém do saber-se aprendiz, sempre. Não importa aonde se chegou: há muito a construir. É saber-se parte de um processo de construção de uma identidade musical que alia respeito pela tradição (aos que vieram antes) e motivação para aventurar-se em novas experiências (compromisso com aqueles que virão). Lu tem feito isso com maestria. Seu momento atual de criação revela uma ambição que, longe de soar pretensiosa, é muito mais a busca dessa identidade (que só é construída na labuta com as ferramentas adquiridas no decorrer dos anos). Sua performance é apaixonante e deslumbrante. Suas idéias musicais (composições, arranjos, solos), mostram os desafios a que ele se submete na busca da sua voz musical. Seu discurso é coerente.
  muito que tocar, há muito a se viver. Vida longa, Lu. E não se esqueça, somos do tamanho dos nossos sonhos.

Natureza e música na formação de cidadãos

Luciano Calazans
(Músico, professor do Coral do Mar, produtor musical da banda Casco Cabeça)

Sou Luciano Calazans, músico, compositor, arranjador e produtor musical, mas prefiro sintetizar todas essas funções em uma: músico. Até porque as outras são derivadas desta função/profissão/arte/amor. Lembro-me de minha infância quando, ao ouvir uma palavra diferente, estranha, fui imediatamente consultar - o que chamavam de “pai dos burros” – o dicionário. Permitam-me, inclusive, discordar dessa alcunha para o dicionário, pois o considero o pai dos inteligentes e curiosos do significado das palavras. O prazer de saber o significado da palavra consultada era o mesmo de solucionar um mistério tal qual Sir Holmes.

A palavra em questão era: Oceanógrafo. Permitam-me uma reprodução de seu sentido denotativo retirado da Wikipédia: “A oceanografia (também chamada ciências do mar ou oceanologia) é a ciência que estuda os oceanos, procurando compreender, descrever e prever os processos que ocorrem neste ambiente. A oceanografia tem caráter multidisciplinar e estuda os oceanos sob quatro aspectos principais: físico, químico, biológico e geológico. O profissional formado em oceanografia chama-se oceanógrafo, e está habilitado a trabalhar na pesquisa científica dos oceanos e na gestão de recursos marinhos e ambientais”.

Sabia  – ou pensava que sabia – o que era o oceano. A imensidão azul, habitada por animais marinhos, tubarões, baleias e criaturas que pareciam de outro mundo. Para mim, o oceano era o que existia no mundo mais perto de Deus – apesar de aprender no colégio que Deus estava no céu. Hoje, tenho certeza que Deus está no oceano e é para lá que olho quando quero conversar com o Ser Supremo.

A oceanografia parecia algo muito distante, impalpável. No entanto, outro amor era muito presente. Estou falando da música. Não sei se tem a ver com a questão genética, pois meu bisavô, Raul Grave, era maestro e todos na família paterna têm uma vertente especialíssima com este ramo da arte, inclusive meu pai, que foi músico profissional e muito me influenciou com um repertório da década de 60 e 70. Lembro-me que toda semana, como bons baianos, aconteciam em minha casa rodas de choro regadas com muita alegria, churrasco e cerveja. Ou se tem a ver com minha busca incessante pelo conhecimento musical. O certo é que, no meu caso, dom e vontade de aprender andaram e andam juntos.

Estudei na Escola de Música da UFBA de 89 a 91, onde tive excelentes professores que muito me auxiliaram no aumento de minha curiosidade. Além desses professores acadêmicos, pessoas com bom gosto e com informações musicais também foram meus guias e, de certa forma, professores. Lembro da influência de muitos.

Quando via o mar, pois morava muito distante dele, meu coração batia palminhas. E quando chegavam as férias e íamos para Arembepe/BA, era como se tivesse chegado ao céu. Para resumir – não entrarei em pormenores – aquilo tudo, a música e o oceano iam se namorando, amando-se.Tive o privilégio de, mesmo vindo de uma infância um tanto humilde, ouvir música em todas as suas vertentes, ter a quem perguntar, ter um dicionário e ser curioso.

Em suma: através do interesse pela música aliado ao desejo de informação sobre a vida na Terra – em uma época que ecologia nem era um assunto tão falado, pelo menos para mim – consegui escolher o que queria ser na vida. Aprendi a questionar, com professores ou não, sobre diversos assuntos que me interessavam (ser autodidata também é muito bom). Aprendi a respeitar os mais velhos, a respeitar hierarquias naturais, aprendi com erros, dentre inúmeros outros aprendizados. Só não aprendi a ser anjo (e acho que isso hoje é quase impossível), mas sei que eles existem e que estão personificados nas crianças, seres puros e cheios de vida, a quem podemos influenciar com boas ou más posturas.

Graças à música pude realizar um grande sonho: conhecer o primeiro oceanógrafo em minha vida. E olha que peso. E olha que oceanógrafo. Trata-se de Guy Marcovaldi. Um idealista. Um homem que faz acontecer. Que sonha e que torna possível várias realidades. Que bom que ele gosta da música! Novamente vou usar uma frase já dita anteriormente: aquilo tudo, a música e o oceano iam se namorando, amando-se.Lembro quando foi esse encontro. Deu-se em fevereiro de 2010 no Oceanário de Aracaju. Acompanhava o grande músico baiano Armandinho, num show para os 30 anos do Projeto TAMAR.

Hoje, sou muito feliz pelo projeto TAMAR e pelos Tamarzinhos terem aparecido em minha vida por várias razões: o que outrora era um centro de visitação onde podia deleitar-me com as tais criaturas marinhas que só via em filmes e documentários, transformou-se em fonte da mais pura e perene inspiração para várias coisas que tenho feito - e isso em menos de um ano!  Chorei ao conhecer os “bastidores” do Projeto. Nunca tinha visto a olho nu tamanha dedicação, isenção de vaidades, vontade de fazer o bem, vontade de cuidar da natureza, dentre outras infinitas “lindas do mar”.

Uma das principais razões de tamanha felicidade, digo com certeza que a mais importante, foi criar o “Coral do Mar” e em seguida ministrar aulas de teoria elementar às crianças nativas de Praia do Forte e adjacências. Coisa que pretendo, com o apoio do TAMAR, estender à comunidade de Arembepe e/ou outras bases que se identifiquem ou contextualizem o ensino de música aos seus padrões e realidades.

Esse Coral só me dá alegrias. No início, houve necessidade de uma seleção de crianças, em seguida planejamento e execução de aulas de uma hora, às segundas-feiras, na Base do Tamar, na Praia do Forte. De frutos já temos: o Coral do Mar  se apresentando em shows com a Banda Casco Cabeça e fazendo gravação em estúdio para a música “Casco Cabeça”, faixa do CD dos 30 anos do Projeto Tamar; a mensagem de Natal do Tamar para seus amigos e parceiros; e também a participação no clipe de fim de ano junto com funcionários da base de Praia do Forte cantando a Valsa da Esperança. Tudo isso pode ser conferido no site do Tamar. Com o suporte do TAMAR e de seus organizadores consegui – aliás ainda estou no começo – realizar um sonho de muito tempo: ver uma centelha de interesse por cultura no olhar de cada criança, responder “oceanos” de perguntas sobre harmonia ali, melodia aqui, cânones, Villa Lobos (é isso mesmo! Villa Lobos), Jobins, Pixinguinhas e assim por diante.

Não é intenção desse Projeto, que alia música e consciência ecológica, formar “Mini-músicos”. Nem os faço vislumbrarem, nem se deslumbrarem, afinal de contas todos são estudantes, e precisam de informações hoje para serem cidadãos de valores preciosos no futuro.

O Coral do Mar já é um sucesso por si. Antes mesmo das aulas de música ele foi formado. É um misto de prazer, curiosidade e o fascínio pelo desconhecido que une esses meninos – que são Tamarzinhos também – para cantar. Ando pela vila em Praia do Forte e não tem um dia que não seja assediado por crianças querendo cantar! Isso não é lindo? Só isso: “Posso cantar no coral, tio”?

Mas isso é uma coisa natural. Repito sempre: A música é um vírus e todos nascem com esse vírus, mas ele só se manifesta em alguns. Se houver algum “infectado” na turma, é questão de tempo tornar-se músico, crítico de música, maestro ou alguma profissão ligada à arte. Ou não. Pode ser também o que deseja e sonha, e mesmo assim ter conhecimentos ambientais e musicais. Quem sabe no futuro não tenhamos, dessa primeira turma, um oceanógrafo músico ou mesmo um músico que goste do oceano.

O foco das aulas que são gratuitas e abertas a todos da comunidade, é fomentar mais um suplemento cultural em crianças (alvo principal), além do que elas já estudam em suas escolas. Está dando certo aos poucos em Praia do Forte (PF) e acho que seria de bom grado que em outras bases – com estrutura similar a de PF – seguissem essa “aventura” prazerosa e cultural para os dois lados: o de quem ensina e o de quem aprende. Ambos têm a mesma função na minha opinião. Quem ensina aprende e vice-versa. Então, para terminar, a música, o oceano, a ecologia, a arquitetura, a engenharia, a medicina, o direito, a natureza em si, terão uma chance, por menor que seja, de caminharem juntos de mãos dadas por vários mundos melhores!

E para terminar, mais uma vez, o que já disse: “aquilo tudo, a música e o oceano iam se namorando, amando-se”. Depois, teremos um grande casamento. Só pergunto em qual base do Tamar será a festança?